"Boa noite leitores, ontem as 20h eu estava realizando minha prova
da faculdade, e após seu termino, comecei a desenvolver uma ideia, até que
nasceu esse conto que possivelmente foi vivido, apreciem."
DOIS CORPOS
Um par velho de All-Star batidos de barro seco;
meias semi usadas sobre os mesmos; toalha molhada e enrolada na cabeceira da
cama de solteiro desarrumada com o travesseiro dobrado e perfumado pelo shampoo de
noites pós banho, cobertor estendido pela cama como se aguardasse alguém para
deitar-se e cobrir-se e, a fronha bege querendo escapar sobre as pontas das
laterais, como se fosse menor do que o próprio colchão; um violão Crafta alaranjado
com cordas de nylon apoiado na lateral da cômoda, alojada no canto esquerdo
da parede com todas as suas gavetas rachadas e rabiscadas com caneta preta
permanente; janelas de madeira surrada e empoeirada no estilo de casas
antigas que estão à venda, trancadas para privatizar um momento íntimo.
Parede na cor salmão decorada com desenhos em suas quatro extremidades feitos
a mão pelo próprio dono - uma fileira de bonecos coloridos de olhos
esbugalhados presos no papel - pareciam observar quem fixava os olhos nos
deles; um tapete felpudo marrom médio - tão macio quanto agrupado com
sujeiras como fios de cabelos grandes loiros, ruivos e morenos - pedaço de
embalagem de um chocolate qualquer, uma tampa mordida de caneta esferográfica,
botão branco de camisa pisoteado; migalhas de chocolate branco na beira da
mesinha do computador - um tipo de escrivaninha - e uma toca longa, estilo
zebra, recém tirada e jogada em cima de uma caderneta Credeal com
imagens de natureza – pantanal mato-grossense – com um logotipo “I Love
Nature” escrito na capa, possivelmente de anotações diárias; deixando
cair sobre o chão de assoalho com a tintura marrom desgastada, um pedaço de
folha com um número anotado e um recado de dias atrás.
Luz apagada, cheiro de sedução pairando no ar pesado. A camisa social de
listras azuis que fora tirada sem ter sido desabotoada por completo cobria a
calça jeans feminina alguns números menores sobre o tapete
felpudo. As partes íntimas estavam diante as mãos de ambos sendo bruscamente
despidas de uma maneira silenciosa. Mesmo com os movimentos freneticamente
contínuos o silêncio fora predominante naquele pequeno cômodo abafado. Um
gemido – parecido com um grunhido – foi serenamente audível, mas carinhos
intensos eram inaudíveis. Um dos corpos era viril e torneado, com os braços
corados do sol e seus pelos arrepiados de prazer, manejavam a cintura em boa
forma. Ambos unidos feitos num só, escorriam gotas salgadas de transpiração
pelas costas, o excesso de toque marcava a pele sensível e clara dela,
deixando lembranças avermelhadas passageiras semelhantes a dedos cravando
fundo na carne. Os olhos revirando e a boca seca cada vez mais próxima do
corpo – de cima para baixo – não existia lugar a desvendar, todo campo
alcançável tinha vestígio de mordidas e a língua não tranquilizada dentro da
boca, viajava sobre estradas irreversíveis. “Cola mais sem medo”, disse num
tom autoritário mostrando quem é que manda, mas o suspiro devolvido lhe
trazia a reciprocidade de desejo. Logo os tecidos úmidos cederam ao corpo
seduzido, e a imagem de como se vem ao mundo fez-se presente. E os corpos
trêmulos se entrelaçaram vorazmente como os anéis de saturno fazem com seu
planeta, girando em volta de si mesmo, os indivíduos também tocavam o céu e
além dele, o universo a dois.
Alguém chegou, mas ninguém esperava visita. Ficaram parados esperando que
aquela voz fosse embora. Era engraçado como tudo pode mudar de uma hora para
outra. A voz foi ficando cada vez mais distante e um barulho de porta
fechando se ouviu, os dois corpos voltaram a se amar, era bonito de se ver,
um deles sentia mais que o outro, mas talvez deveria ser apenas impressão.
Terminaram e o garoto ficou muito satisfeito. Num futuro próximo ele se
encontrava chorando por ter esperado demais, só que naquele momento, tudo
estava em ordem. O que mais se pode querer?
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