terça-feira, 16 de junho de 2015

Conto - Dois Corpos


ESTAMOS EM UM BLOG NOVO


"Boa noite leitores, ontem as 20h eu estava realizando minha prova da faculdade, e após seu termino, comecei a desenvolver uma ideia, até que nasceu esse conto que possivelmente foi vivido, apreciem."


DOIS CORPOS
Um par velho de All-Star  batidos de barro seco; meias semi usadas sobre os mesmos; toalha molhada e enrolada na cabeceira da cama de solteiro desarrumada com o travesseiro dobrado e perfumado pelo shampoo de noites pós banho, cobertor estendido pela cama como se aguardasse alguém para deitar-se e cobrir-se e, a fronha bege querendo escapar sobre as pontas das laterais, como se fosse menor do que o próprio colchão; um violão Crafta alaranjado com cordas de nylon apoiado na lateral da cômoda, alojada no canto esquerdo da parede com todas as suas gavetas rachadas e rabiscadas com caneta preta permanente; janelas de madeira surrada e empoeirada no estilo de casas antigas que estão à venda, trancadas para privatizar um momento íntimo. Parede na cor salmão decorada com desenhos em suas quatro extremidades feitos a mão pelo próprio dono - uma fileira de bonecos coloridos de olhos esbugalhados presos no papel - pareciam observar quem fixava os olhos nos deles; um tapete felpudo marrom médio - tão macio quanto agrupado com sujeiras como fios de cabelos grandes loiros, ruivos e morenos - pedaço de embalagem de um chocolate qualquer, uma tampa mordida de caneta esferográfica, botão branco de camisa pisoteado; migalhas de chocolate branco na beira da mesinha do computador - um tipo de escrivaninha - e uma toca longa, estilo zebra, recém tirada e jogada em cima de uma caderneta Credeal com imagens de natureza – pantanal mato-grossense – com um logotipo “I Love Nature” escrito na capa, possivelmente de anotações diárias; deixando cair sobre o chão de assoalho com a tintura marrom desgastada, um pedaço de folha com um número anotado e um recado de dias atrás.

       Luz apagada, cheiro de sedução pairando no ar pesado. A camisa social de listras azuis que fora tirada sem ter sido desabotoada por completo cobria a calça jeans feminina alguns números menores sobre o tapete felpudo. As partes íntimas estavam diante as mãos de ambos sendo bruscamente despidas de uma maneira silenciosa. Mesmo com os movimentos freneticamente contínuos o silêncio fora predominante naquele pequeno cômodo abafado. Um gemido – parecido com um grunhido – foi serenamente audível, mas carinhos intensos eram inaudíveis. Um dos corpos era viril e torneado, com os braços corados do sol e seus pelos arrepiados de prazer, manejavam a cintura em boa forma. Ambos unidos feitos num só, escorriam gotas salgadas de transpiração pelas costas, o excesso de toque marcava a pele sensível e clara dela, deixando lembranças avermelhadas passageiras semelhantes a dedos cravando fundo na carne. Os olhos revirando e a boca seca cada vez mais próxima do corpo – de cima para baixo – não existia lugar a desvendar, todo campo alcançável tinha vestígio de mordidas e a língua não tranquilizada dentro da boca, viajava sobre estradas irreversíveis. “Cola mais sem medo”, disse num tom autoritário mostrando quem é que manda, mas o suspiro devolvido lhe trazia a reciprocidade de desejo. Logo os tecidos úmidos cederam ao corpo seduzido, e a imagem de como se vem ao mundo fez-se presente. E os corpos trêmulos se entrelaçaram vorazmente como os anéis de saturno fazem com seu planeta, girando em volta de si mesmo, os indivíduos também tocavam o céu e além dele, o universo a dois.



     Alguém chegou, mas ninguém esperava visita. Ficaram parados esperando que aquela voz fosse embora. Era engraçado como tudo pode mudar de uma hora para outra. A voz foi ficando cada vez mais distante e um barulho de porta fechando se ouviu, os dois corpos voltaram a se amar, era bonito de se ver, um deles sentia mais que o outro, mas talvez deveria ser apenas impressão. Terminaram e o garoto ficou muito satisfeito. Num futuro próximo ele se encontrava chorando por ter esperado demais, só que naquele momento, tudo estava em ordem. O que mais se pode querer?





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