terça-feira, 16 de junho de 2015

Conto - Batom Vermelho

 ESTAMOS EM UM BLOG NOVO

"Boa Tarde Leitores, é muito prazeroso poder postar o meu primeiro texto, espero que gostem pois foi uma experiência marcante em minha vida. "


BATOM VERMELHO
1

Finalmente o momento da minha maioridade havia chegado. Foram dezoito anos difíceis, enfrentei muitas barreiras por um porre. Comprar bebidas no supermercado nem pensar. O bar de frente a minha casa era a única alternativa viável, eu ia lá e pedia para o Seu Joel me dar algumas garrafas de cerveja, ele era gente boa, viúvo de um casamento de quase 50 anos, agora fazia do seu bar um bordel, dava para ver várias vagabundas lá dentro, dançando, bebendo e falando alto. Bom, eu dizia sempre que as bebidas eram para minha mãe e ainda pendurava. O velho nunca duvidou que fosse para mim, era amigo da família, me viu crescer, e, caso fosse qual problema teria? Encher a cara de vez em quando não era tão ruim assim, e nem chega a ser crime, oras! Não deixo de ser roubado se saio nas ruas à noite, as motocicletas e carros dos meus amigos nunca estão seguros, sempre visados..., e eu estaria cometendo alguma violação comprando umas cervejas geladas para curtir minhas fossas? Vá à merda! Eu tenho 18, as autoridades terão que me engolir!


     00:01 de terça feira, dia 4 de Dezembro, o grande dia. Acordei com um barulho irritante, zunindo e vibrando. Raios! O que seria aquilo? Parecia um besouro tentando se salvar de um afogamento em alto mar. Passei a mão na cara, estava com os sentidos lentos, esfreguei os olhos com os dedos em forma de caracóis e coloquei a perna direita no chão para me levantar, dormia de bruços que nem uma pedra. Assim como um velhote, levantei resmungando pela
interrupção do meu cochilo, fui rosnando até a mesa do computador atrás do sofá na sala. Olhei em torno da mesinha e peguei o celular que tocava. Notei que tudo girava, era como ter levado um murro na cara ou ter me embriagado a tarde toda, mas nenhuma dessas opções tinha efeito, eu trabalhei naquele dia, não consumi álcool e nem briguei, nunca tinha brigado, e sentia vergonha disso. Qual o garoto de 18 anos que nunca tinha entrado numa confusão e depositado uns bons sopapos em algum idiota?

     O motivo surpreendente por ter acordado era diversas mensagens e ligações que eu estava recebendo, pela primeira vez fui lembrado pelo meu dia. Mas é engraçada esta data. Aniversários são comemorados e isso é estranho. No nosso dia natalício onde estamos envelhecendo, os cabelos embranquecendo, a cabeça caducando, os ossos apodrecendo e o fim mais próximo, e eu deveria celebrar? Passo.

     Chequei os torpedos, agradeci algumas pessoas por terem lembrado sem possuir alternativa mais coerente, voltei a dormir. Minha casa estava numa paz sem igual, propício a mais uma pestana... Apaguei.

     Tranquilidade total, eu podia voar, correr atrás das gostosas com a bunda de fora, encarcar todas elas e dar o fora numa boa, sem compromisso e nem peso na consciência, eu estava sonhando.
Buzz! Buzzzz!
Caceta, de novo não!
Acordei.
     Tirei o celular debaixo do travesseiro e atendi “Alo? Que merda cara, me deixa dormir!”. Era meu amigo me chamando para um bar, sem comemorações, apenas beber para não passar batido... Porra, que mal teria numa cervejinha não é mesmo? Aliás, eu era maior, minhas primeiras horas de maioridade. Fui estrear.
    
Caindo na noite.
     De início eram quatro cuecas e uma calcinha, só macho praticamente. Mas chamaram também uma guria amiga deles, por mim tudo bem. Queria beber, fumar e ir embora, mas não envelhecer, merda.
     Como eu fui tirado de casa pós-cochilo, cambaleava pelas calçadas, sonolento, quase voltando embora. Éramos sete, três casais entretidos em suas conversas sobre política e atualidades e eu atrás quase caindo, mas caminhando na medida do possível, estou sem assunto, droga. Cinco deles eu já conhecia, mas a colega nova nunca tinha visto mais gostosa. Caminhava devagar, seu cabelo grande e solto balançava nas suas costas, seu quadril quebrava de cá pra lá, meus olhos acompanhavam sem piscar, era formosa, baixa e com busto descoberto. Mal pude ver seu rosto, mas seu decote não passava imperceptível. Chegamos ao bar.
     Vermelho, um tom muito chamativo, assim estava ela com sua boca de morango, lábios gritantes. A cor do amor e da sedução... Talvez da paixão, quem sabe? Pode ser que não. Em primeiro momento não lhe dei muita bola, jogada num canto, ficou sem luz, nem ganhou minha atenção, mas quem disse que eu a queria?
      O espaço em mim era destinado a curtir aquele momento, com amigos por algum tempo e assim me despertar no meio da escuridão como a um lampião que clareia o ambiente e iluminando a mente a fim de excluir toda a maneira que nos leva ao não... Naquela noite iríamos dizer mais sim. Sim para o mundo e sim para nós mesmos. Noite acompanhada de álcool e fumaça, meu apelido foi “chaminé”.
     Eu estava curtindo todas as risadas dadas, meu melhor amigo de infância ao meu lado, me sentia comemorando meus aniversários anteriores, que naquele dia acontecia e me lembrava de que não comemorei alguns outros como o prometido, entretanto, besteira minha de querer anular o decorrer natural do tempo.
    Voltei a ficar pouco zonzo e me guiava pelas bochechas mais cheias e expressivas, pelo sorriso de canto de boca, o jeito de me olhar que me instigava a querer agarrá-la e sufocá-la em beijos ofegantes para lhe mostrar que não estava brincando nesses últimos minutos nas intensas trocas de olhares.

     Empurrei a cadeira para trás, hora de levantar e ir ao banheiro, no final do corredor havia um cômodo sem chuveiro. Sentia alguém atrás de mim, quando olhei... Nada. Ao olhar para a mesa... Alguém sorriu para mim, e meu amigo me chamou para voltar, sentar-se e fumar algo... A noite estava passando. Sentei-me novamente.Fitei-a novamente, o vento soprava seus cabelos ondulados deixando-os flutuarem sobre o ar, fiquei admirado sem saber para onde olhar. Um cigarro a pedi, mas ela não tinha. Tivemos que ir comprar.

     Descemos dois lances de escadas e entramos no corredor que dava na boca do caixa. Estava a sós com ela, um frio na barriga me atingiu naquele momento, tive que correr o risco. E, após pegar a mercadoria a joguei na parede e um beijo roubado aconteceu, ela cedeu, eu também cedi logo em seguida, com as pernas tremendo, mas com as mãos firmes. Fui egoísta com seus lábios, pois os desejei só para mim. Deslizando minhas mãos em suas pernas, subindo sua saia à cima do joelho... Não tenha medo, Batom Vermelho.







2

    Teu gosto ficou adormecido em meus lábios.
     Na manhã do dia seguinte as lembranças estalavam como o ronco do motor V8 biturbo de 585 cavalos do belo “Mercedes S63 AMG Coupe 2015”. Olhei para os lados com a certeza de que não a encontraria, dito e feito, o lado esquerdo da cama bagunçado, e somente o esquerdo – dormi sozinho – não literalmente, pois um corpo embriagado e desolado encontrava-se em meio à sala adormecido há horas fazendo-me companhia.
     Os dias seguiram assim, intercalados de conversas picantes e instigadoras, até o próximo encontro que não tardou a acontecer. Imagine duas estruturas ósseas pendendo de ansiedade e desejo de se unirem, assim como a tinta une a folha lisa e limpa dando forma à letra, nós daríamos a forma a dois animais selvagens, famintos por carne numa insaciável procura do que saborear e devorar. Entretanto, nos aguentamos como dois animais comportados na floresta nebulosamente negra - vozes chamavam por nossos nomes - assim esperavam a noite toda, bebedeira afora.
     Caminhamos pela Rua Augusta adentro e um amontoado de pessoas aglomeradas cheirava a álcool e baforava chaminés, uns se relacionando com o mesmo sexo, outros em suas drásticas tentativas de mudá-las. Confesso que com algumas doses no coco eu não perceberia quem era homem ou mulher naquele meio, mas com a cabeça ainda sã costuramos a multidão, encontravas de tudo naquela noite – tudo mesmo. Após alguns longos quarteirões ela avistou o Bar da noite, no qual se chamava Bar Roxo. O nome era apenas fantasioso, tendo em vista que o lugar era tomado por neons vermelhos sangue, dando um tom de intensidade, mas nada de roxo... Porém, pouco importava a cor.
     Aquela misteriosa mulher que teria ganhado a permissão em intervir no que eu chamava de vida. Uma, duas, três garrafas de Heineken – com um sabor amargo no fundo da garrafa – minha visão ainda estava nítida, e a noite prolongada em conversas jogada fora. Nada de timidez em seus olhos, sem maquiagem alguma, me perguntava subitamente qual a fonte de tanta beleza, e sua predominância emitida pela simples presença de seu ser perante a mim. Em alguns momentos dávamos sossego a cerveja e éramos tomados por risos espontâneos, mas minha maior preocupação era seu olhar intimidador que um dia me fascinara - oh que noite fora aquela Batom Vermelho? - hoje sem o tom avermelhado nos lábios, e sem brilhos radiantes nos olhos, tendo apenas à malícia intensa capaz de me levar a loucura apenas visualmente.

     A hora da aproximação chegara finalmente, dando espaço as intimidades de ambos. O papo era cabeça, mas a minha estava a mil, imaginando onde poderia acabar aquela noite, que não fugisse das minhas expectativas. Foi quando tu levantaste da mesa me chamando para se aventurar, que audácia a sua. Novamente andando, procurando, rogando encontrar algum lugar propício. Fora ocasional estarmos naquele lugar, naquela noite? Talvez nada explicasse como as ações possuem suas reações, e mesmo não querendo se envolver com outra pessoa, sua sugestão foi a esperada, uma noite para ter um amor e chamar de seu e depois mais nada? Eu não a contei, mas notei a sua alta defesa como uma muralha de guerra, que intransponível até por catapultas em chamas, como pode ser tão defensiva assim? Uma incógnita a ser decifrada em apenas uma madrugada, um de meus maiores desafios - mal sabia eu, que o verdadeiro desafio era não me apaixonar ainda mais por ela - assim que eu gosto - viver o risco de morrer, mas por assim viver querendo encontrar a razão deste mesmo querer.

     Voltamos à rua, eu estava um pouco tonto e ela ia me guiando na frente, ora segurando minha mão e costurando a multidão ora me indicando onde ir, e fomos retornando para o começo da avenida, no sentido oposto em que descemos e do outro lado da rua era aonde se encontravam os locais apropriados. Minha ansiedade era tão grande que eu não parava de perguntar se já tínhamos chegado, mas ela sempre me dizia que não e que tinha o local vagamente na lembrança, eu assentia com a cabeça e por dentro me mordia de raiva, pois estava cansado, bêbado e com muito desejo. Passamos por um e não era ele, por outro e por outro, nenhum deles. Atravessamos algumas quadras e pensei em desistir quando finalmente ela entrou por uma porta de vidro insufilmado com um cartaz falando sobre preços e afins na parede.
     Entramos no quarto e minha pele começou a queimar, ia acontecer finalmente. Eu precisei ir ao banheiro e logo pensei que tinha sido uma péssima hora, mas minha ansiedade estava me matando. Sai e ela também disse que precisava entrar, assenti com a cabeça e fiquei esperando-a já deitado. Não demorou muito e a porta se abriu, a fresta da luz iluminou um pouco o cômodo e uma perna apareceu, era grossa e da cor do pecado, a outra veio em seguida, sua mão segurou a porta e a abriu por inteira, ela vinha se entregar para mim. Deslumbrei-me com tamanha beleza escultural, a lingerie era branca e fina como eu tinha pedido que usasse, cairia muito bem no seu corpo de grandes proporções. Ela caminhou lentamente em minha direção como numa passarela e nos teus olhos tinha fogo e pura sedução. O álcool não produzia mais efeito perante a insaciável vontade de tomá-la. Deitou sobre a cama e se posicionou perto a mim, joguei meu corpo para cima do seu e a beijei, beijei com muita vontade, como nunca tinha beijado alguém antes. Afastei nossos lábios e admirei teu rosto, desci os olhos por seus peitos dentro daquele cetim, e paralisei nas coxas, as grandes e grossas coxas, tentadoras, como eu as desejava. Beijei-a novamente sem parar dessa vez, nossos corpos foram ficando cada vez mais perto e eu me encaixei nela. Roçamos, e senti que poderia ficar assado, então a despi e me despi em seguida, cai de boca e não me lembro por onde comecei e nem onde terminei, mas encaixei nela com jeito e lá estava eu matando minha vontade.
     Coloquei-a de quatro e fiquei pasmo com o tamanho do seu quadril... Era imenso, me ajeitei e coloquei, deslizou para fora, mas encaixei com mais firmeza, entrou e não saiu mais. Os suspiros ficaram afobados e uma satisfação explodia em nosso olhar, ela puxava o lençol do colchão macio de algodão, sua pele em atrito com a minha, suando e realizando aquilo que passeou pela nossa imaginação. Não parecia ter término. Pulsação acelerada e ela loucamente me satisfazendo – que triste seria quando a noite findasse – num canto distante do quarto fora produzido um som por alguma caixa potente, mas abafada por outros sons estranhos, entretanto ainda reconhecia a canção, era justamente U2 "...One love, one blood, one life you got, to do what you should, one life..." a canção perfeita para aquele momento - me diga como não me apaixonar em tais circunstâncias? - Deus, não sou de ferro, vá com calma. Me deitei cansado e ela saltou para cima de mim, estava louca de prazer, tomada por alguma energia insaciável que me dava medo, mas era um medo bom. Colocou as mãos no meu peito e se empinou para trás, como nos filmes... Mexeu, rebolou e quicou, tudo ao mesmo tempo, ela deveria estar bêbada, mas tinha algum controle da situação, aumentou a velocidade e me fez gemer, gemer alto, e então ...
     Uma, duas, três horas e cheguei lá.

     Cabeças de cada lado, braços esticados tocando um ao outro, me aproximei do teu rosto e fiquei admirando-a, teu rosto estava diferente, era como se tivesse se modificado depois daquele momento, tinha expressões mais fortes, marcantes para os olhos, não consegui descrever, mas sei que ficou na minha mente. As pálpebras pesaram e logo estavam fechadas, hora de dormir um pouco. O aroma de prazer exalando no ar causava insônia, e quando voltei à consciência já era hora de levantar e seguir nosso rumo, aquele rumo que perdi.



3

     Tivemos que acordar as 4 e pouco da manhã, por algum motivo ela estava apressada para ir embora, eu não entendia, tínhamos até o meio dia para aproveitar e foi isso que pensei que iríamos fazer, mas ela já não me olhava nos olhos e nem me tratava como as horas passadas, talvez o encanto tivesse passado, se consumado. Nos vestimos e não teve nem chances de ter a “saideira”, pegamos a chave e trancamos o quarto.

     De volta à avenida, seguimos subindo e os arruaceiros ainda se encontravam lá, dormindo pelos becos, sentados e apagados nos degraus. Alguns tomavam café da manhã acompanhados de mais cerveja ou vodka, outros iam da maneira mais tradicional com o café, era maluco ver isso, eu não aguentava tanta bebida de uma vez só, mas parecia normal a eles, eles não eram normais, nunca seriam, e por isso sabiam viver. Passo após passo, cambaleando de cansado, bocejando, pensei que eu poderia estar dormindo naquele exato momento, por que estava andando? Indo embora? Ainda não era hora, puta de um domingo de ressaca e a guria me inventa de sair correndo. Sempre foi um mistério o motivo da fuga.

     Entramos no metrô, sentamos, ele partiu e não falamos uma palavra, fiz menção sobre a distância dela e foi um erro, ela ficou sem jeito para responder e acabou que nem me respondeu, eu a senti afastando-se cada vez mais e não mais questionei. Seguimos dessa mesma maneira todo o trajeto, chegou perto de sua casa e ela se foi.
     Alguns dias se passaram e nada dela querer de novo, o ruim é que eu queria repetir, pobre idiota, tinha me apaixonado. Mas dias se passaram e nada. Semanas e meses, e mesmo assim nada iria voltar a acontecer, eu não conseguia acreditar naquilo. Certa vez ela me disse que era algo só de uma noite, mas mesmo assim eu insisti como a um perfeito idiota, insisti, insisti e me tornei o cara mais chato do mundo, mas não conseguia parar e nem desistir. Muito tempo passou, nós nem nos falamos mais... Porém, se ela aparecesse dizendo que sente minha falta, tudo se repetiria numa boa, dane-se, não tenho amor próprio mesmo e ela é a dona da boca mais vermelha que já vi e mais misteriosa também. 



















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